Raul Seixas
Autoproclamado o
“primeiro artista de iê-iê-iê pós-romântico”, Raul Seixas cravou a desilusão da
nossa classe média nas paradas com um dos maiores hits de 1973, a balada folk
“Ouro de Tolo”. O sucesso transformou o produtor meticuloso em um ídolo pop,
dali em guru/filósofo e dali em um mito do rock nacional. Para muito além das
lendas, conheça o que realmente se passava na cabeça de Raulzito em três
entrevistas históricas, em três momentos diferentes de sua carreira
Quando ganhou as rádios com “Ouro
de Tolo”, vendendo 60 mil singles em poucos dias, Raul Seixas já podia se
considerar um veterano.
Aos
27 anos (três a menos do que Celly Campello, por exemplo), o baiano de Salvador
já tentava a sorte no Rio de Janeiro havia meia década. Apadrinhado por Jerry
Adriani, Raul chegou com sua banda soteropolitana de iê-iê-iê (Raulzito &
Os Panteras), um explosivo fracasso surgido quando ninguém mais queria saber de
jovem guarda. Aceitou um convite para trabalhar como produtor na CBS, onde
compôs e coordenou discos de gente tão diversa quanto Trio Ternura, Renato
& Seus Blue Caps, Tony & Frankie, Leno e outros.
Por
força do trabalho, descobriu o capixaba Sérgio Sampaio. “Acreditei tanto nesse
cara que ele me convenceu a voltar a ser artista”, diria anos depois. Durante
uma viagem da cúpula da CBS, Raul aproveitou os estúdios da casa e registrou um
disco absolutamente caótico chamado Sociedade da Grã-Ordem Kavernita Apresenta:
Sessão das Dez, gravado ao lado de Sampaio, Miriam Batucada e Edy Star. Acabou
demitido.
Em
1972, sem nada a perder, inscreveu-se no VII Festival Internacional da Canção
com um curto-circuito entre baião e rock chamado “Let Me Sing, Let Me Sing”,
que defendeu vestido de couro preto, como o Elvis de 1968. Rapidamente, foi
contratado pela central de malucos que era a gravadora Philips. Raul já sabia
tudo de estúdio, já sabia como manipular o gosto médio brasileiro e como
provocar o público.
“Ouro de Tolo”, balada triste à
moda de “Sentado à Beira do Caminho” e “Detalhes” (hits recentes de Roberto e
Erasmo), com uma letra verborrágica à moda de Bob Dylan, era um sucesso
esperado.
Antes
do single, Raul já chamara a atenção ao aparecer no Programa Silvio Santos
falando sobre discos voadores. Depois, saiu com seu parceiro, o letrista Paulo
Coelho, pelo centro do Rio de Janeiro, cantando “Ouro de Tolo” 40 vezes,
cercado por uma multidão de curiosos. E ainda topou trocar o “Corcel 73” da
letra original por “carrão 73”, porque a Globo não queria fazer “propaganda
gratuita” da Ford.
Assim,
não espantou o sucesso da canção, nem que seu primeiro álbum-solo, Krig-Ha,
Bandolo!, lançado em julho de 1973, tenha sido um hit nacional, emplacando
outros clássicos como “Mosca na Sopa”, “Al Capone” e “Metamorfose Ambulante”,
além de divulgar a imagem do cantor como ícone popular. A entrevista a seguir
foi realizada no auge desse sucesso inicial e publicada em novembro de 1973 na
revista Pop.
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